A pintura é uma coisa suspensa.
Resulta da interrupção de um último gesto e ali fica, eternamente inacabada, à espera do olhar que a completa.
A pintura completa-se no interior da tua cabeça.
A pintura, suspensa no tempo, espera por ti. Será tudo o que fores capaz de fazer dela.
Quando a olhas ela brilha de vaidade, ajeita-se e faz pose, arma-se em boa.
Insinua-se, tenta seduzir-te.
Quer contar-te uma história.
A tua história.
A pintura, sem o saber, é como tu.
E tu és parte da pintura que contemplas.
Ela dir-te-á aquilo que quiseres saber.
Sejas tu capaz de a ver e ela mostra-se.
Seja ela capaz de te descobrir e irá ao teu encontro.
Rui Silvares, 100 Cabeças
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