Este ano não há Páscoa.

A primeira Páscoa longe de casa. O hábito é passar em casa dos meus avós, numa minúscula aldeia chamada S. Miguel de Outeiro. Este ano:

- não vou ter que acordar às 10 da manhã.
- não vou ter que falar com estranhos que apareçam na mesma casa só porque o padre também lá vai.
- não vou ter que fugir do padre com a cruz - entenda-se esgueirar-me pela porta atrás de mim mesmo quando ele está a uns míseros dois metros. Ou fingir uma súbita vontade de ir à casa de banho. Ou uma chamada importante. Qq coisa assim.
- não vou ter que conter as gargalhadas quando numa aldeia minúscula, as pessoas querem integrar o padre que, já agora, é preto, e andam atrás dele a apontar e a sussurrar 'É preto! É fixe!'. Se bem que esta é das poucas partes que aprecio.

no entanto, a vida não é só coisas boas. Também não vou:

- poder concorrer com a minha prima por uma tarte de morangos fabulosa que aparece na mesa todos os anos.
- poder esgueirar-me para a sala de baixo e comer enchidos e bolos como se não houvesse amanhã sem ninguém a dizer-me 'olha que isso vai para as ancas.'.
- poder comer o arroz de polvo mais fantástico do mundo que a minha avó faz.

Oh.