quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

No meu tempo não era assim

Estudantes afirmam que estiveram 30 mil na rua em todo o país

Confesso que se desenha um sorriso por estes lados ao saber o número.

Sempre ouvi os meus pais e tios contar as grandes revoluções que havia quando eles eram do meu tamanho. Não dúvido que tal ansia de mudar o sistema e deitar abaixo as linhas que comandavam o sistema educativo estivesse relacionada com o boom do 25 de Abril, mas gosto de saber as pessoas com vontade, ferocidade e garra. Mostra-me que não está tudo com o corpo na escola e a mente na cama.

Já no meu tempo a coisa mudou. As manifestações de estudantes (que na realidade eram apenas e só greves) não passavam de uma desculpa ao jeito de o meu cão comeu o meu tpc para faltar às aulas. Faltava-lhes o impacto revolucionário que poderia mudar alguma coisa. Os alunos pareciam dormentes.

A geração actual surpreende-me. Sempre pensei que eram uma cambada de tótós que gostava do Twilight e dos Morangos com Açúcar e acabam por conseguir reunir o tal maravilhoso número redondo de 30.000. Lindo. Que gritem e tal. Que se distingam. Até os fundamentos são um tanto deliciosos - muito bem jogada, essa dos manuais gratuitos.

Hoje estou na universidade e acho que os problemas são semelhantes (não me refiro aos motivos de queixa, claro). É muito lindo ver as guerreolas que há na luta para o cargo de chefão dos estudantes; posso até acrescentar que me chego a questionar se estou mesmo numa escola para adultos ou se faço parte de um gigantesco cast de uma telenovela manhosa venezuelana. A coisa a este nível já não se prende tanto com greves mas sim com jogos políticos e disses-que-disse. Até acredito que algum trabalho para melhorar o ambiente dos alunos seja feito, mas com tanta ridicularização à mistura tenho bastante dificuldade em ver a luz nesses lados e o meu voto acabar por ir para the next best thing. Aguardo com grande expectativa o S.Sebastião que devia era deixar-se de merdas e aparecer para se fazer ouvir. Mil vozes fazem apenas ruído; uma podia mudar não o mundo, mas o estatuto do estudante.

3 comentários:

Silvares disse...

O S. Sebastião costuma aparecer todo furadinho com flechas e tal.
:-)
Aí os maganos andam a sonhar mas é com fazer leis e sentar o rabito na assembleia da república. Vale tudo menos pôr um 3º olho na testa. Não fica bem na fotografia.

js disse...

Eu não gosto. Acho que protestar só por protestar só serve para criar uma geração de pessoas mais interessadas em encontrar problemas nos outros do que em si próprio.

Mais, é uma ofensa às pessoas que protestam por coisas que importam.

ovelha.negra disse...

Sim joão, protestar só porque sim é completamente ridículo e quase ofensivo, mas foi exactamente essa a ideia que quis transmitir. No entanto, desta vez parece-me que as crianças quiseram ir um bocadinho mais alem (ora lembra-te lá dos fundamentos das manifestações enquanto andavas na escola e lê os de agora).