domingo, 31 de outubro de 2010

No meu país à beira mar


Tenho 24 anos e bem ou mal nunca me interessei muito por política. Sempre segui o assunto, claro, mas com pouco mais interesse do que aquele com que sigo o futebol.
Nos ultimos meses isso mudou. O meu país está em crise.

Vejo anúncios de emprego à porta dos supermecados a pedir um trabalhador para o posto X. No dia seguinte esse posto está preenchido e o anúncio foi retirado. Assim, de repente, em menos de 24 horas de exposição.
Vejo colegas a pensar se têm dinheiro para comer. Vejo colegas a pensar onde podem ir comprar comida mais barata para que daqui a duas semanas possam ir a casa ver a família - afinal de contas ir todos os fins de semana sai caro e o que o coração não vê,o coração não sente.
Vejo os restaurantes a anunciar os preços nas janelas. Vejo esses preços mais baixos todos os meses.
Passo por lojas que não pertencem a grandes cadeias de investimento e vejo que dizem 'liquidação total'. Passo por lojas que pertencem a grandes companhias e vejo o mesmo.
Vejo publicidade de bancos a sugerir que os estudantes, logo que iniciem o seu primeiro emprego, começem um fundo de poupança. Aos 60 anos os medicamentos vão ser necessários, é assim o ciclo da vida.

Tudo isto me parecia distante, tudo isto me parecia irreal. Pois como poderia não parecer quando os senhores que aparecem na televisão dizem que vão gastar mega-euros em coisas como tgv? Ou a maior árvore de natal da europa. Ou mais estádios de futebol. Ou isto, ou aquilo, não interessa bem o quê.

Mas não. A Grécia afundou, o meu país vai a caminho. 'Vai', 'já chegou'.. o tempo verbal da ideia não é relevante neste momento.

Vejo estudantes como eu a correr daqui para fora, para onde quer que seja, para onde lhes paguem. Um emprego com algum pagamento é melhor que pagamento nenhum. As famílias que ficam para trás.. 'oh, eu venho cá no natal, aí já devo ter algum dinheiro'.

Vejo tudo muito negro. 'Orçamento de estado' é uma expressão que foi introduzida no meu vocabulário hà muito pouco tempo. Apesar disso faz-me confusão que, de acordo com os mesmos senhores da televisão de que falei abocado, as contas sejam feitas com dinheiro imaginário, dinheiro que ainda vai ter que ser ganho. Dinheiro que não existe. Dinheiro que vai ter que existir. Dinheiro que se irá fazer notar nos abonos de família (mas e então?, o que é que as famílias com menos dinheiro vão comer? eles vão ter que comer, não vão? e se ficarem doentes?). Ou então noutras coisas, coisas que prefiro nem pensar. Coisas que decerto vão ser anunciadas na tv nos próximos dias.

Acrescento ainda que tudo isto me está a começar fazer doer o coração.
E que muito ainda fica por dizer.

1 comentário:

js disse...

Acho que sempre foi assim. Agora é que estamos na idade de reparar nessas coisas.

De resto, nem sequer concordo com a tua visão. Mas admito que possa estar enganado.